Enquanto Dilma briga com PR, Lula viaja em jatinho de dirigente da legenda

“Num instante em que Dilma Rousseff toma distância do Partido da República, Lula se achega à legenda.
Na noite da última quinta-feira (14), Lula viajou de Goiânia para São  Paulo num avião modelo King Air cedido pelo deputado federal Sandro  Mabel (PR-GO). Mabel preside em Goiás o diretório estadual do PR, a  legenda que protagoniza o escândalo de corrupção no Ministério dos  Transportes. Deve-se a informação sobre a “carona” de Lula na aeronave de Mabel ao repórter Demétrio Weber.
Lula foi a Goiânia para participar do segundo dia do Congresso da  UNE. Depois, visitou a cidade de Aparecida de Goiânia. Esteve no  Condomínio Águas Claras, um conjunto de casas populares erigido na sua  gestão, com verbas do programa Minha Casa, Minha Vida. Foi recepcionado  por políticos goianos. Entre eles o prefeito da cidade, Maguito Vilela  (PMDB), e Mabel. Lula mimetizou o comportamento que exibia nos tempos de  presidente. Inspecionou residências, discursou e cumprimentou  moradores.
Na foto lá do alto, Mabel, de óculos, aparece na posição de “papagaio  de pirata”, logo atrás de Lula, em meio à multidão. A certa altura,  Lula, que viajara de São Paulo para Goiânia em avião de carreira, disse  que receava perder o horário do vôo da volta. Político bem posto, dono  da fábrica de biscoitos cuja logomarca incorporou ao sobrenome, Mabel  ofereceu seu avião particular. E Lula não hesitou em aceitar.
Acompanharam o ex-soberano na carona, um assessor de imprensa,  seguranças e Luiz Dulci, o ex-ministro que, hoje, trabalha para Lula no  seu Instituto de Cidadania. Sem mencionar o favor aeronáutico, Mabel  cuidou de dar visibilidade aos momentos que dividiu com Lula. Escreveu  no twitter: “Acabo de chegar na prefeitura de Aparecida de Goiânia juntamente com nosso querido ex-presidente Lula.” Levou ao blog uma nota sobre a passagem do visitante ilustre pelo condomínio Águas Claras. Pendurou fotos na web.
Além de presidir o PR-GO, Mabel controla no Estado a representação do  Dnit, o departamento que cuida das obras rodoviárias. Acomodou no  posto, ainda na Era Lula, o apadrinhado Alfredo Neto, personagem que,  por ora, sobrevive ao escândalo que já produziu seis escalpos nos  Transportes. Às turras com a cúpula do PR, Mabel degusta o infortúnio de  Alfredo Nascimento e Valdemar Costa Neto –respectivamente presidente e  secretário-geral do partido.
Os desentendimentos da tróica começaram em fevereiro, quando Mabel  levou às últimas consequências uma malograda candidatura à presidência  da Câmara. Fechados com Marco Maia (RS), o petista que prevaleceu na  disputa, Nascimento e Costa Neto tentaram, sem sucesso, convencer Mabel a  desistir da postulação. A teimosia custou a Mabel a liderança do PR na  Câmara e a abertura de um processo disciplinar interno.
Não fosse o escândalo que derrubou Nascimento da cadeira de ministro e  carbonizou Costa Neto, o prejuízo de Mabel teria sido maior. Antes de  cair em desgraça, os mandachuvas do PR tramavam destituir Mabel da  presidência do diretório goiano. Queriam entregar o comando do partido  no Estado ao goiano José Francisco das Neves, chamado na intimidade de  Juquinha. Vem a ser o ex-presidente da estatal ferroviária do Ministério  dos Transportes, a Valec. Abalroado pelas denúncias e afastado por  Dilma, Juquinha refreou o plano de substituir Mabel.
Nascimento e Costa Neto haviam acertado também a demissão de Alfredo  Neto, o homem de Mabel no Dnit de Goiás. Incumbido de levar Alfredo ao  cadafalso, Luiz Antonio Pagot, o pêérre que chefiava o Dnit em Brasília,  viu a lamina descer antes sobre seu próprio pescoço. Para fugir ao  afastamento ordenado por Dilma, Pagot saiu em férias. A despeito de ter  preservado o governo em depoimentos no Congresso, não voltará ao  cargo. Enquanto seus rivais lidam com novas prioridades, Mabel vê  esfriar a grelha que Nascimento e Costa Neto haviam acionado contra  ele. Ao viajar nas asas cedidas por Mabel, Lula como que grudou sua  imagem num pano de fundo que traz as marcas de uma legenda em chamas e  as nódoas de um ministério em ruínas.
Nesta sexta (15), já em São Paulo, Lula anunciou num discurso parasindicalistas: “Eu vou voltar a viajar pelo país”. Em verdade, já havia iniciado o ciclo de viagens na véspera. E não começou bem.”
(Blog do Josias de Souza)
 
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