O comunista Haroldo Lima não detém conhecimentos técnicos sobre  petróleo, mas sabe tudo de política. Aos 71 anos, o atual diretor-geral  da Agência Nacional do Petróleo (ANP) já fez muito pela esquerda.  Militou no movimento estudantil, fundou a organização Ação Popular, a  AP, na qual combateu a ditadura militar, e, há 39 anos, apaixonou-se  pelo PCdoB. É um dos mais antigos e dedicados quadros do partido, pelo  qual cumpriu cinco mandatos como deputado federal. Num deles, elegeu-se  com o mote “botando para quebrar”. A exemplo de tantos outros políticos  de sua geração, sacrificou-se pelos ideais da esquerda, mas capitulou  aos encantos da direita. Em 2003, em reconhecimento a seus serviços, o  então presidente Lula nomeou Haroldo para uma diretoria na ANP.
Desde então, Haroldo socializou cargos e contratos entre os camaradas  do PCdoB. Fora, assegurou – com muito custo – o próspero acúmulo de  capital dos grandes empresários do setor petrolífero. Essa ambiguidade  de papéis, subproduto do aparelhamento partidário do Estado brasileiro,  não poderia dar certo. Conforme revelou ÉPOCA na capa de sua última  edição, viraram regra a cobrança de propina e os achaques a empresários  que precisam das canetadas dos burocratas da ANP. A reportagem trouxe a  público evidências fortes da corrupção na ANP, como cheques, e-mails,  relatos de empresários extorquidos – e até um vídeo em que uma advogada  que atua no ramo é achacada por dois assessores da ANP. Todo o material  integra uma investigação sigilosa, iniciada pelo Ministério Público  Federal no Rio de Janeiro.
No vídeo, gravado em maio de 2008, Antonio José Moreira, então  procurador da ANP, e Daniel de Carvalho Lima, estagiário da agência,  cobram R$ 40 mil da advogada Vanuza Sampaio para liberar o registro de  um cliente dela, a distribuidora de combustíveis Petromarte. Ambos dizem  falar em nome do dirigente do PCdoB Edson Silva, então superintendente  de Abastecimento e hoje assessor de Haroldo Lima. Os dois assessores da  ANP dizem no vídeo que o valor de R$ 40 mil foi estipulado por Edson  Silva e que ele receberia R$ 25 mil do total.
Assim que a reportagem foi publicada, a direção da ANP, em vez de  determinar a investigação dos fatos, esforçou-se por tentar  desqualificar o caso. A ANP chegou a anunciar que a advogada Vanuza foi  interpelada judicialmente – e que ela teria negado qualquer acusação  contra o comunista Edson Silva. Não é verdade. “Fui interpelada em razão  de uma matéria que saiu na imprensa contra o senhor Edson Silva. Apenas  neguei que fosse fonte da referida matéria. Nunca voltei atrás em  nada”, disse a advogada Vanuza. Ela, diante da repercussão do caso,  aceitou falar a ÉPOCA na semana passada. Vanuza esclareceu, sobretudo, o  que já se suspeitava: os dois assessores da ANP disseram a ela que o  dinheiro cobrado iria para o caixa do PCdoB.
Não é por acaso que a ANP reagiu agressivamente às acusações: até a  máquina publicitária da agência tem muitas afinidades com Haroldo Lima –  e depende dele. A Leiaute Propaganda, agência baiana contratada pelo  baiano Haroldo Lima para comandar a publicidade da ANP, tem entre seus  sócios amigos e camaradas do próprio Haroldo Lima. Sidônio Palmeira e  Liani Sena, dois dos donos da Leiaute, são filiados ao PCdoB, segundo  registros do Tribunal Superior Eleitoral. Antônio do Carmo, até há pouco  tempo diretor da Leiaute, integrou o PCdoB por 18 anos. Os laços entre  Sidônio Palmeira e Haroldo Lima são antigos: eles militaram juntos no  movimento estudantil da Bahia. Hoje, a ANP do comunista Haroldo Lima  gasta R$ 7,7 milhões anuais com a empresa de Sidônio. A mesma Leiaute  prestou serviços nas últimas campanhas eleitorais do petista Jaques  Wagner ao governo da Bahia, disputadas com o apoio do PCdoB. (Hoje, a  Leiaute também detém as contas publicitárias do governo da Bahia.)
Uma das sócias da Leiaute, Liani Sena, disse que nem ela nem Sidônio  Palmeira são ou já foram filiados ao PCdoB, apesar das evidências em  contrário. Ela afirmou ainda que o contrato da agência com a ANP obedece  a todas as exigências da lei. “Foi um processo de licitação legal do  governo federal”, disse. Procurada, a ANP, em resposta a perguntas  enviadas pela reportagem de ÉPOCA, disse que o contrato com a Leiaute  foi “auditado pelos órgãos de controle externo, que nunca registraram  qualquer irregularidade na sua execução”.
fonte (Revista Epoca)
 

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